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Podia só saciar o corpo. Deixar a roupa cair aos meus pés e ficar assim. Despida de mim. Podia esperar que o meu corpo gritasse pelo teu. Podia só saciar o corpo e esquecer o que ele sofreu. Podia esperar que as nossas respirações acelerassem; que os nossos corações se descompassassem e que as nossas mãos se tocassem. Podia só saciar o corpo. Só o corpo. Exibir-te as formas sem pudor. Balancear-me nas curvas e pedir-lhes o último tango, por favor. E dançaríamos. Se dançaríamos. Só os dois. Numa coreografia perfeita. Ao ritmo do nosso desejo. Acompanhados pelo nosso beijo. Podia deixar-me embrenhar pelo toque das tuas mãos sobre a minha pele. Da pele nua, lembras-te? E assim saciava o corpo. Só o corpo. Assim. Junto a mim. Podia a tua pele vestir a minha pele. Vesti-la de desejo. Podiam as tuas mãos adivinharem-me as formas e a tua boca demorar-se no meu beijo. Podia o teu toque apagar-me as imperfeições e fazer-me sentir o ser mais perfeito do universo. Podíamos ser isso mesmo. Podíamos ser mesmo isso. Perfeitos. Podia pedir-te um beijo. Receber-te nos meus lábios ávidos de desejo. Podia perder as maneiras. Descer da compostura e deixar entrar a loucura. Podia pedir-te baixinho, que me possuísses devagarinho. Ou então podia olhar-te nos olhos, sem dó nem piedade. Pedir-te que, esta noite, fossemos feitos de verdade. Podia ser mais uma noite. Podia desejar-te com calma. Podia só saciar o corpo mas continuava a faltar a alma.